Luiz Rosan é um dos mais respeitados fisioterapeutas na área de medicina esportiva no Brasil e no mundo, coordenando atualmente o REFFIS (Reabilitação Esportiva, Fisioterápica e Fisiológica) do São Paulo Futebol Clube e também o departamento de fisioterapia da Seleção Brasileira de futebol. A modernização do esporte mostra ao torcedor que o trabalho de um clube de futebol vai além da contratação e montagem de um time.A estrutura para recuperação de atletas, bem como a prevenção de lesões, tem-se mostrado tão ou mais importante que as demais áreas.
Veja a entrevista realizada pelo site de esportes: http://jornalismofc.com/ com o mais importante fisioterapeuta do Brasil na atualidade. Nessa breve entrevista Luiz Rosan conta aos torcedores como é o seu trabalho e esclarece como funciona a política para o tratamento de atletas que não pertencem ao clube.
Fabiano: Rosan, conte-nos sobre sua formação acadêmica.
Luiz Rosan: Sou formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP).
Fabiano: Quando houve o interesse pelo trabalho com a medicina esportiva?
Luiz Rosan: Já no primeiro ano de faculdade, interessei-me pela área esportiva, e sempre que podia, aproveitava para ir ao XV de Piracicaba oferecer ajuda para os atletas lesionados.
Foi quando percebi a carência dessa área nos times de futebol, e que nós, como fisioterapeutas, poderíamos ocupar um espaço para contribuir e agregar subsídios importantes, que ajudassem o clube e atletas.
Fabiano: Já trabalhou com outros esportes?
Luiz Rosan: Não.
Fabiano: Em qual clube iniciou sua trajetória no futebol?
Luiz Rosan: No próprio São Paulo F. C. na década de 80.
Fabiano: Quando houve a percepção no São Paulo Futebol Clube sobre a importância de prevenir e recuperar os atletas?
Luiz Rosan: O SPFC sempre valorizou esta área, talvez agora ela tenha sido exposta de uma maneira mais evidente. Desde a minha primeira passagem pelo clube nós já havíamos contribuído com a execução do Centro de Fisioterapia e Fisiologia do Exercício do Esforço, onde procurávamos prevenir e reabilitar as lesões do esporte da modalidade futebol aceleradamente. Apesar de já transcorrerem duas décadas, o clube sempre investiu nessa área. Foi o primeiro a importar um equipamento isocinético em 1984, e já colocava à disposição, nessa época, os seus recursos de fisioterapia para os clubes do interior do estado, sempre gratuitamente. O SPFC já era referência em fisioterapia desde essa época.
Sempre socorreu os clubes quando solicitado. Recordo que o C.A. Bragantino mandava seus atletas se reabilitarem no TRICOLOR. Eu mesmo conheci o Mauro Silva, por exemplo, através da fisioterapia do SPFC. Atletas como o tenista Luiz Mattar (o principal tenista brasileiro da época) procuravam a fisioterapia do SPFC quando lesados. Na verdade estou querendo dizer que isso não é novidade, talvez seja apenas uma conseqüência com maior exposição de mídia.
Fabiano: Você fez parte da concepção do que hoje conhecemos como REFFIS?
Luiz Rosan: Neste meu retorno ao clube em 2003, idealizei o projeto REFFIS. Foi um árduo trabalho de seis meses, desde a implantação até a inauguração. Reitero que foi projetado para as necessidades básicas do SPFC, onde o clube não colocou um centavo sequer, teve custo “zero”.
Como eu acreditava no mesmo sai à luta e fui em busca de patrocínio, sempre com o aval da diretoria tricolor. Ouvi muito NÃO, mas não desisti, e enfim consegui no segundo semestre de 2003. Foi surpresa para todos, penso que até a diretoria, mas eu acreditei sempre.
Fabiano: O sucesso internacional do São Paulo na recuperação de atletas despertou a inveja de outros grandes clubes brasileiros. O Santos Futebol Clube criou o CEPRAF (Centro de Excelência em Prevenção e Recuperação de Atletas de Futebol), mas como sabemos alguns problemas com a cessão de equipamentos e a saída de profissionais acabou prejudicando o trabalho. Qual o principal foco que um clube deve ter se quiser seguir o exemplo do São Paulo?
Luiz Rosan: Quem sai na frente leva vantagem, e o REFFIS largou na frente junto com o SPFC. Agora os outros terão que correr atrás, e nós nos aprimorarmos para mantermos sempre a qualidade e a excelência do trabalho realizado. Para viabilizar um projeto assim, em princípio, o primeiro passo é buscar “parcerias”, devido aos altos investimentos. Em segundo lugar, formatar protocolos que ajudem na recuperação acelerada dos atletas. O resto vem por conseqüência.
Fabiano: Quando surgiu o convite para ser o fisioterapeuta da seleção? Quem paga seu salário quando serve a CBF?
Luiz Rosan: Em 1998, logo após o término da Copa do Mundo. E somos convocados o que faz supor que o clube em que estamos vinculados é que pagam nossos salários.
Fabiano: Todos sabem a dificuldade que a comissão técnica da Seleção Brasileira tem ao reunir os atletas para um trabalho num curto período de tempo, quando se trata de amistosos ou jogos pelas Eliminatórias, por exemplo. Não há tempo de prevenir ou mesmo tratar lesões, quando se tem um grupo reunido 2 ou 3 dias antes de uma partida. Como é seu papel quando está com a equipe “canarinho”?
Luiz Rosan: Procuramos no período de convocação para os amistosos apenas atender às principais queixas dos atletas. Às vezes para uma seqüela de lesão, outras para atendimento da fase aguda de uma lesão instalada, ou ainda dando prosseguimento a determinados protocolos de fisioterapia iniciados com alguns meses de antecedência, como por exemplo, em outro jogo que o atleta eventualmente tenha participado. Quando temos tempo suficiente para prepararmos para uma competição, executamos uma avaliação criteriosa e promovemos ao longo do período itens e baterias com recursos para prevenir lesões ou promover melhoras de grupos musculares específicos, que restabeleçam ou ajudem a melhorar a performance do atleta. Se durante a competição alguém se lesiona, temos um arsenal de equipamentos que ajudam no restabelecimento breve do atleta. Para isso contamos com alguns containeres pequenos que nos acompanham durante as viagens.
É fato também que após a convocação, seja para um ou dois jogos ou para uma competição mais longa, fazemos um mapeamento dos atletas que irão compor o grupo, observamos de que país vem, quais os clubes, suas metodologias de trabalho etc.
Fabiano: Muitos atletas, ao conhecerem seu trabalho, perguntam-lhe sobre a estrutura do São Paulo?
Luiz Rosan: Sim, a maioria já ouviu falar da estrutura do SPFC, que muitas vezes é maior que a dos grandes clubes da Europa!
Fabiano: Você atua como facilitador no contato desses atletas e a diretoria do São Paulo, quando esses precisam tratar-se fisicamente, como no caso mais recente do meia Diego, do Werder Bremen?
Luiz Rosan: Primeiro que ele não vem se tratar fisicamente. Todos que procuram o REFFIS são porquê apresentam alguma lesão ou vem de alguma cirurgia. Eles vêm em busca de FISIOTERAPIA. Dos atletas que procuram o REFFIS, todos estão indistintamente à procura da fisioterapia, em busca de reabilitação para voltar às atividades funcionais normais. Já atendemos mais de 70 atletas profissionais ao longo desses últimos quatro anos, e nenhum em busca de condicionamento físico (exceção feita ao Adriano, que foi um caso especial). Nosso banco de dados conta com mais de 110 pacientes (fora os que pertencem ao próprio SPFC), sendo a grande maioria derivada da modalidade futebol. Isso não significa que não tenhamos condições para atender as outras modalidades, mas damos preferência a jogadores de futebol, porque o REFFIS foi feito para eles.
Já ouvi dizer que o SPFC é aliciador de jogadores através do REFFIS, agora vos pergunto:
Dos 73 atletas profissionais que o REFFIS atendeu apenas quatro ficaram no São Paulo (Alex Silva, Luizão (quando não pertencia a clube algum), Ricardo Oliveira e agora o Adriano). É muito ou pouco? E os outros? Talvez seja um percentual em torno de 5% se comparado ao grupo de atletas de futebol profissional. Quando comparado ao grupo todo (empresários, políticos, etc.) esse percentual deve ser em torno de 2 a 3%. Quanto ao Diego, talvez pelo fato de conhecê-lo desde os tempos de Santos Futebol Clube. Outra coisa para que fique bem claro: sempre peço autorização à diretoria do clube, para realizarem o tratamento no REFFIS.
Fabiano: O Adriano talvez seja o atleta mais “famoso” a tratar-se no REFFIS, embora não tenha tido nenhuma lesão. Já houve algum contato ou possibilidade de uma grande estrela internacional do futebol tratar-se no São Paulo?
Luiz Rosan: Não nos importamos com o nome do paciente e sim com o sucesso da reabilitação, portanto isso é insignificante para nós fisioterapeutas. A fisioterapia aplicada será a mesma no paciente que joga em um time menor ou naquele que joga em um time maior e na Europa. Posso apenas lhe dizer que as maiores estrelas do futebol mundial, principalmente os brasileiros, já passaram por lá. Formaríamos pelo menos umas quatro seleções, com alto poder de sucesso e vitórias.
Fabiano: Por último gostaria de parabenizá-lo pelo excelente trabalho ao longo dos últimos anos, cujo reflexo não são apenas as conquistas do São Paulo Futebol Clube, mas também a volta ao trabalho de grandes atletas do futebol brasileiro e internacional. Espero que futuros profissionais possam inspirar-se em você, para que tenhamos o futebol brasileiro sempre em primeiro lugar no cenário mundial.
Luiz Rosan: Obrigado. Costumo dizer que esse país é respeitado lá fora quando o assunto é futebol. Nós somos primeiro mundo quando se trata de futebol e é quando nos igualamos com os grandes centros europeus. A fisioterapia esportiva brasileira já é vista com olhos diferentes, mas estamos apenas no começo. Um procedimento, um programa fisioterapêutico no futebol moderno, pode mudar a história dos níveis de prevenção, aceleração e tratamento, atingindo objetivos concretos, antes inimagináveis e impossíveis, e com isso todos saem ganhando: clube, atleta, torcida e profissional da área.